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Projeto pé de moleque

Aulas de ballet são oferecidas gratuitamente para crianças de baixa renda.

por Eric Borges

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João Vitor Percilio na seletiva do Prix de Lausanne.

    O projeto Pé de Moleque foi criado em 1997 pela proprietária, professora e coreógrafa do Ballet Vórtice, Guiomar Boaventura, através do pedido de um aluno para atender crianças da Instituição Cristã de Assistência Social de Uberlândia (Icasu).  Desde sua criação, cerca de quatro mil meninos e meninas já passaram pelo projeto.

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    A Escola de Ballet Vórtice é uma das mais renomadas do Brasil. Sua equipe de profissionais possui currículos impressionantes que envolvem escolas de ballet do mundo todo, como o Bolshoi e Vaganova. Frente a isso, a escola uberlandense, a fim de dar oportunidades a todos, criou o Projeto Pé de Moleque. Sediado no bairro Lídice, o projeto atende crianças e adolescentes de escolas públicas e baixa renda que tenham interesse em aprender ballet.

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    Guiomar Boaventura fez curso de Aperfeiçoamento Técnico e Repertório Clássico com os professores Sergey Smirnov e Natália Lavrurrina na Escola Coreográfica do Bolshoi em Moscou. É formada em psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais e desenvolve desde 1990 o que chama de Técnica Brasileira de Ballet. No ano de 2012 foi convidada pela Beijing Academic School para ministrar aulas durante o The 4th InternationalBallet Ballet Invitational for Dance Schools. Nesta competição recebeu também o Prêmio Especial do Juri. Ao longo desses anos seus alunos foram premiados nos mais importantes festivais de dança do pais e exterior. É Diretora Artística da Vórtice Escola de Danças e Associação Pé de Moleque Dança Cidadã de Uberlândia – MG.

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    Guiomar Boaventura já foi bailarina, mas não teve uma carreira muito expressiva, já que essa durou muito pouco, pois teve o joelho lesionado e o medo a impediu de realizar a cirurgia. Ainda assim, sua carreira como professora é reconhecida mundialmente. Devido a seu grande histórico com o ballet, ela sabe como é estar em ambos os lados da equação: como aluna e como professora. Dessa forma, seu olhar atento detecta até os mínimos detalhes. Em seguida, com a rigidez de uma coreógrafa, combinada com a compaixão de quem sabe como é ser aluno, Guiomar conduz seus alunos para o sucesso no mundo da dança.

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    Porta de entrada de muitos alunos com dedicação, mas sem condições financeiras para estudar ballet, o Projeto Pé de Moleque já levou diversos alunos para estudar em grandes escolas internacionais ou dançar em grandes companhias internacionais, como é o caso dos bailarinos listados a seguir:

 

Daniel Robert -  bailarino do Het Nationale Ballet (Holanda);

Hadriel Diniz – bailarino do Ballet West (Estados Unidos);

Luiza Boaventura – bailarina do Alabama Ballet (Estados Unidos);

Thiago Vinicius – aluno da Academie Princesse Grace (Mônaco);

Victor Caixeta – bailarino do Mariinsky Theatre (Rússia);

Wictor Hugo – bailarino do Bejart Ballet Lausanne (Suíça).

 

    Desde a criação do projeto, Guiomar nunca recebeu patrocínio para continua-lo, apenas algumas verbas anuais do Ministério da Cultura que duraram apenas três anos, frente aos vinte e um que o projeto possui. A professora realiza cursos, palestras para mantê-lo. Entretanto, para ela, a conta bancária é o que “menos interessa”.

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    Para Guiomar, a trajetória das meninas no ballet é mais complexa. Pois, na maioria dos casos, quando chegam aos 14 ou 15 anos de idade suas percepções e prioridades mudam. Do ponto de vista da professora, elas são influenciadas por questões de classe e da visão social do ballet e da dança em geral. Além de seu papel como professora, Guiomar às vezes também se depara com crianças abusadas sexualmente e as ajuda a libertarem seus corpos. Segundo ela, essas crianças possuem corpos tensos que parecem não permitir o prazer. Assim, através do balé, elas são levadas a outra realidade, na qual podem ser o que quiser.

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    Para os homens que se interessam pela arte, sabemos que há um grande tabu quando o assunto é homens no ballet, mesmo após 100 anos de sua criação. O Ricardo, do Blog Bolsa de Bailarinos, tem uma opinião super certa do que acontece sobre esse assunto: “Hoje temos uma inversão de valores tão grande a ponto de questionarem a sexualidade dos meninos que praticam a dança, como se dança e orientação sexual estivessem diretamente ligados.”

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    Guiomar conta que muitos meninos passam por processos de discriminação dentro de casa, com a família e muitas vezes até com amigos. Recebe, em seu projeto, crianças com diversas trajetórias – muitas delas traumatizantes. Mesmo com tais adversidades, o importante para Guiomar no projeto é a construção conjunta que vive com as crianças:  é a beleza dos momentos de ensaio que, para ela, compensa e supera tudo.

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    Encantada com o que faz e com a sinceridade das crianças, Guiomar diz: “isso é o que eu gosto neles, nas crianças de maneira geral: elas não têm contas pra pagar, elas não estão preocupadas em te agradar. Então tem um momento ali na sala que é muito verdadeiro. A gente ama o que a gente está fazendo. ”

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     Uma das últimas conquistas do projeto foi ter um de seus bailarinos selecionados para o Prix de Lausanne, um dos maiores festivais de dança do mundo, pela quarta vez. João Vitor Percilio, de 15 anos foi selecionado para o concurso através da seletiva latino-americana realizada em Goiânia no final de setembro. A seletiva contou com a participação de 44 bailarinos, com idade entre 14 e 18 anos, já pré-selecionados por vídeo.  Apenas 3 bailarinos foram selecionados para se apresentar na Suíça no ano que vem, ambos viajarão com todas suas despesas pagas pelo Prix de Lausanne.

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    João Vitor é aluno do projeto desde os seus 12 anos, já se apresentou em grandes festivais como o Youth America Grand Prix que acontece em Nova York e foi medalha de ouro no Festival de Dança de Joinville neste ano, considerado o maior festival de dança do mundo pelo livro Guinness dos Recordes. Quando pergunto para o bailarino o que a dança significa para ele, Percilio afirma “A dança significa muito pra mim, através dela eu posso expressar todos os meus sentimentos, e demonstrar a Arte”.

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    Para fazer parte do projeto Pé de Moleque, os interessados passam por uma audição que é realizada semestralmente, as datas são sempre divulgadas através das redes sociais do Ballet Vórtice: Instagram (@vorticeescoladedancas) e Facebook (Ballet Vórtice).

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