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A arte Drag Queen em Uberlândia

Conheça mais sobre esse Universo tão presente em nossa cidade.

Por Eric Borges

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Da esquerda para direita: Victória Müller, Nicolly Cout, Bis Kate e Alice Cout.

    Drag Queen, Drag vem do verbo em inglês “to drag”, arrastar em português. E se refere ao fato de que as longas roupas femininas arrastavam pelos palcos. Logo, drag virou um termo associado a homens vestidos de mulher. Quando esta arte foi aperfeiçoada pela comunidade gay no século 20, o queen foi adicionado.

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    Para facilitar o entendimento da história dessa arte, o site G1 construiu uma linha do tempo:

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Na Grécia antiga - 500 A.C: O teatro grego tomava forma e nasciam atores e personagens. Na época, somente homens podiam interpretar e com isso as personagens femininas eram vividas por homens vestidos como mulheres.

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Na Inglaterra de Shakespeare - século XVI: Os papéis femininos escritos pelo autor inglês eram interpretados em geral por adolescentes ou meninos vestidos de mulher. Acredita-se que papéis femininos mais importantes eram deixados para atores mais qualificados, mas não para mulheres.

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Na Europa - séculos XVIII e XIX: Com mulheres cada vez mais presentes no teatro, vestir-se de mulher para interpretação passou a ser por motivos cômicos e para sátiras. Os homens que se vestiam de mulheres passaram a integrar as peças como uma categoria diferente de atores. Maquiagem exagerada, vestimentas parodiando o estilo da alta sociedade e um humor afiado fizeram esta figura comum para o público e sucesso de crítica.

Estas “damas” do teatro, passaram a se apresentar em clubes também. Mas as duas guerras mundiais transformaram o cenário mundial e a mulher assumiu nova posição social e a posição da drag queen também foi revista. Aos poucos também passou a estar associada ao homem homossexual.

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Nos EUA e Europa – século XX: Com a chegada da televisão, o teatro virou lugar do glamour, dos musicais e as “damas” perderam espaço. Elas assumiram uma postura diferente, personificando as mulheres de forma glamurosa.

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Nos anos 60: A cultura pop surgiu nas grandes metrópoles e com ela uma abertura maior em relação a comunidade gay. Apesar disso, os bares gays eram relegados a áreas periféricas das cidades, mas foi neste cenário que as drag queens encontraram o caminho para seu retorno.

Era nos clubes, que as “novas drags” achavam espaço para se “montar” e fazer apresentações que remetiam aos ícones do cinema e da música da época.

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Anos 70 e 80: As drags viraram símbolo da luta pelos direitos LGBTQ, mas com o avanço da AIDS a comunidade foi mais uma vez relegada a espaços de nicho e as drags voltaram para os clubes.

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Anos 90: A arte passou a ser valorizada de novo especialmente por causa de Hollywood. “Priscilla, a rainha do deserto” ajudou a levar a arte drag para o grande público novamente. Mais uma vez à frente da luta pelos direitos LGBTQ, as drags ajudaram a popularizar as paradas gays ao redor do mundo.

O americano RuPaul surgiu como a drag queen superstar: pose de modelo, cantora, personalidade, apresentadora, amiga dos famosos...

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Anos 2000: Com a cultura pop cada vez mais disseminada com ajuda da internet e a comunidade gay mais participativa e abraçada por artistas e pelas artes, a cultura drag ganha o destaque que nunca teve. As drags estão na TV, na música, nas festas e ganharam status de artistas pop.

 

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Drag Queens no Brasil

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    O cenário drag nacional acompanhou de modo geral o internacional, perdendo espaço durante a Ditadura e reocupando esses espaços a partir dos anos 90.

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    Conforme o blog UAI,2017 tornou-se o ano em que mais se falou de drag queens no Brasil. Nomes como Pabllo Vittar, Glória Groove, Lia Clark, Aretuza Lovi roubaram a cena na música. Na televisão, programas e novelas incorporaram artistas e passaram a evidenciar a temática trans. A volta do movimento em destaque teve grande relação com o sucesso do reality show RuPaul’s drag race, lançado em 2009 como uma competição entre drags queen nos Estados Unidos e que, atualmente, tem nove temporadas e até uma negociação para ter uma versão no Brasil. Na TV brasileira, as drags voltaram com tudo no ano passado com aparições em programas como Amor & sexo, com a presença de Aretuza Lovi e Pabllo Vittar na novela Pega pega e no reality show Drag me as a queen, que estreou em novembro deste ano no canal E.!

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    Confusão e notoriedade das drags na atualidade serviu para derrubar preconceitos e abrir espaço para esse tipo de arte. Sim, o movimento drag não é necessariamente uma questão de gênero, apesar de perpassar pela temática. É se travestir de mulher com uma elaboração extravagante para uma performance.

 

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Drag Queens em Uberlândia:

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    Pouco se sabe da história dessa arte em Uberlândia, mas acredita-se que seguiu a história do cenário nacional. Uberlândia é uma cidade reconhecida nacionalmente e internacionalmente quando se trata da arte Drag, isso acontece principalmente pelo fato de a cantora Pabllo Vittar ter morado em nossa cidade.

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    Pabllo Vittar começou a ganhar notoriedade em 2015, com o lançamento do vídeo clipe de sua música Open Bar, que é uma paródia da música Lean On, do grupo de música eletrônica Major Laser.

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    Atualmente, o seu clipe mais popular, K.O, conta com mais de 80 milhões de visualizações no Youtube, além de já ter dado o pontapé inicial para sua carreira internacional, após ter sido convidada junto com a também cantora Anitta para uma música colaborativa com o Major Laser, chamada Sua Cara, que menos de 24 horas após o lançamento do clipe já contava com mais de 20 milhões de visualizações.

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    Pabllo Vittar é a Drag Queen com o maior número de seguidores DO MUNDO!

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    Além da Pabllo, Uberlândia possui muitas outras drag queens que trabalham como cantoras, DJs, hostess, performistas, promotoras de festas, etc. Como é o caso da Victória Müller que está alcançando um reconhecimento nacional pela sua participação na competição “100% Drag” exibida no Programa do Raul Gil.

 

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Para conhecer melhor as drag queens de nossa cidade, conversamos por meio de redes sociais com algumas que possuem grande reconhecimento em nossa cidade, que são elas as Irmãs Cout, Bis Kate e a já mencionada na reportagem, Victória Müller.

 

Qual seu nome? Qual seu nome artístico?

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Bis Kate: Breno Matheus da Silva e Bis Kate;

Nicolly Cout: Matheus Silva e Nicolly Cout;

Alice Cout: Manuel Lucas e Alice Cout;

Victória Müller: Vitor Hugo e Victória Müller.

 

Como escolheu esse nome?

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Bis Kate: Foi minha "mãe drag” (Nicolly Cout) que escolheu, então não sei de onde ela tirou essa ideia;

Nicolly Cout: Através do meme "a gente que tem prótese a gente sente né Nicolly" e o Cout foi de um amigo, afinal nunca pensei que levaria para o profissional, sempre foi tudo uma brincadeira;

Alice Cout: Com ajuda de um amigo que também estava começando a fazer drag;

Victória Müller: Foi muito fácil haha, desde os 13 anos minha mãe me chamava de Victoria, brincando, quando comecei a me montar pensei nele e foi isso.

 

Qual sua idade?

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Bis Kate: 18 anos;

Nicolly Cout: 21 anos;

Alice Cout:  19 anos;

Victória Müller: 21 anos.

 

Com quantos anos você começou a se montar como Drag?

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Bis Kate: 17 anos;

Nicolly Cout: 19 anos;

Alice Cout: 17 anos;

Victória Müller: 18 anos.

 

De onde veio essa vontade?

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Bis Kate: Foi repentina, meu amigo me chamou pra montar um dia do nada e só fui haha não tinha roupa, não tinha peruca e nem nada! Eu não tinha vontade, só via as meninas e achava legal até que um dia deu certo kk;

Nicolly Cout: Na verdade nunca foi uma vontade, começou com uma brincadeira de halloween, uns amigos e eu compramos perucas, maquiagem, e houveram muitos elogios. E desde então to aqui, rsrs;

Alice Cout: Foi no dia do meu aniversário, tinha visto várias drags na minha cidade a um tempinho, e daí eu, meu irmão e o namorado dele, falamos “vamo montar também?”, e foi nessa loucura q começamos. Saímos pra comprar peruca, maquiagem, pegamos saltos emprestados e fomos kkk;

Victória Müller: Sempre tive, sempre acompanhei o trabalho da Striperella, uma top drag de São Paulo, que é uma mulher trans, depois de vários anos acompanhando o trabalho dela conheci o Rupaul e aí foi amor à primeira vista.

 

Como foi para você tomar essa decisão?

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Bis Kate: Ah foi normal, no começo achava que eu ia me montar só por montar mesmo e não montar pra trabalhar e etc;

Nicolly Cout: Eu não lembro exatamente qual foi o ponto principal para esse ocorrido, mas eu fui gradativamente tomando gosto pela coisa e procurando sempre evoluir;

Alice Cout: Montei a primeira vez, me senti um pouco estranha kkk, depois fui pegando amor pela arte e hoje sou apaixonado pelo que faço;

Victória Müller: Não foi nada demais, um dia acordei e disse, vou comprar maquiagem hahaha, fui na quem disse Berenice e deixei um rim lá, voltei pra casa e comecei a treinar make.

 

Como foi para seus pais? Você atualmente possui uma boa relação com eles?

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Bis Kate: Eu não tenho muito contato com o meu pai e não sei se ele sabe, porém o que conta é minha mãe, eu não contei pra ela no começo até que um dia cheguei em casa e ela me chamou pelo nome de drag, eu fiquei chocado kk. Ela só achou ruim pois não contei antes pra ela, ela viu no insta de uma prima minha e me apoia muito até onde ela pode;

Nicolly Cout: Eu não moro com eles, sempre tivemos uma relação muito boa então nada nunca foi um problema;

Alice Cout: No começo foi bem difícil, pois eles não entendiam muito bem do que se tratava, mais com o tempo eles entenderam que isso se travava de uma arte, hoje em dia aceitam de boa, só pedem pra mim ter muito cuidado com os preconceitos;

Victória Müller: Tenho muita sorte da família que tenho, não tive problema algum com eles, pelo contrário, acharam o máximo.

 

Vocês são realmente são irmãs?

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Nicolly Cout: Sim, de sangue. Mesma mãe e mesmo pai.

 

Quem começou a se montar primeiro? Como é essa história haha

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Nicolly Cout: Começamos juntas no mesmo dia kkk, assim que a Alice fez 18 anos o "se montar" foi meio que uma forma de comemorarmos o aniversário dela.

 

No início você se montava apenas por diversão?

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Bis Kate: Sim, como falei antes eu não pensava em trabalhar com como drag, montava só pra beijar os boys;

Victória Müller: Sim.

 

Quais eram as maiores dificuldades no início?

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Bis Kate: Dinheiro pra comprar maquiagem pois eu não tenho trabalho formal então era com o dinheiro da minha mãe que eu comprava, porém ela não sabia pra que era (eu acho);

Nicolly Cout: A maior dificuldade era ser "aceita" no meio, porque sempre houve as mais bonitas né, as mais populares, e no fim éramos apenas mais umas e ninguém dava oportunidade;

Alice Cout: As maiores dificuldades no início sempre são maquiagem, look, comprar perucas, e aceitação dos familiares;

Victória Müller: Como sempre me montei e fiz tudo pela simples vontade do close, nunca me vi passando dificuldaaaades no início, depois que comecei a me profissionalizar na área foi tudo acontecendo e até hoje tamo aí haha.

 

Quando você está montada, você se considera uma personagem? Ou possui a mesma personalidade?

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Bis Kate: Sim, drag é que nem o palhaço no circo no dia ele é um homem e a noite se monta pra entreter as pessoas, sou muito diferente quando não estou montado;

Nicolly Cout: A personalidade muda, não sei explicar, mas é surreal. Parece que incorpora outra pessoa;

Alice Cout: Quando estou montada me sinto em um personagem sim, a personalidade e totalmente diferente enquanto estou de menino;

Victória Müller: Não, eu montada ou desmontada sou a mesma pessoa. Real, não muda nadinha.

 

Hoje em dia você utiliza dessa arte como trabalho?

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Bis Kate: Sim, atualmente como DJ, hostess, performances e produtora de festas;

Nicolly Cout: Sim, é meu único trabalho no momento;

Alice Cout: Sim;

Victória Müller: Sim, faço performances, shows, de set, presença, de tudo um pouco.

 

Como é trabalhar como drag?

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Bis Kate: Tem seus pontos bons e ruins;

Nicolly Cout: Ah eu amo demais, toda vida é uma experiência nova, e eu amo explorar o máximo de eus possíveis;

Alice Cout: Eu amo trabalhar com o que eu faço, e cada role eu fico mais apaixonada do que o outro, só que eu acho que Uberlândia poderia ter mais oportunidades para drags;

Victória Müller: É complicado pois não podemos depender só dessa renda, tem mês que tem muita coisa tem mês que não tem nada, então é um vai e vem constante. Mas eu amo.

 

E quando se trata da valorização das pessoas que querem contratar vocês para eventos? Como costuma ser esse processo?

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Bis Kate: A valorização é péssima em alguns casos, alguns já chegam botando preço no nosso trabalho e alguns nem preço dão haha já perguntam se a gente pode fazer em troca de vip ou consumação, a maioria vem por meio de wpp que conseguem com amigos e eu passo meu preço e como entro com minha parte;

Nicolly Cout: É sempre um jogo de cintura muito grande pra não perder o job né?! Mas acaba que é tranquilo pelo fato dos contratantes já conhecerem meu trabalho;

Alice Cout: Então, graças a Deus quem nos contrata sempre é bem atencioso com a gente, tem uns que não entendem muito e desvalorizam às vezes. Quando querem nos contratar sempre chegam até uma de nós, ou até mesmo nos mandam e-mail ou mensagem pelo Instagram;

Victória Müller: Tem casos e casos, muitas pessoas acham que não devem pagar muito pelo nosso trabalho e sempre tem um convite do tipo “vem que divulgamos seu trabalho em troca” o que é muito errado, hoje em dia eu sou bem direta, não tem cachê, não tem show. Mas muitas pessoas estão começando a entender que é um trabalho como qualquer outro e estão passando a valorizar isso, o que é bem legal.

 

E sobre a valorização do público, considera boa?

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Bis Kate: Sim, o melhor carinho é do público, claro que tem alguns que não gostam, porém são minoria;

Nicolly Cout: Ah e normal, acho que Pabllo em si abriu muitas portas para a arte drag;

Alice Cout: Graças a Deus o público de Uberlândia é bem receptivo, todo mundo ama essa arte, então a aceitação do pessoal e ótima;

Victória Müller: Muitooo, as pessoas sempre me abordam de uma forma calorosa e amorosa, e eu acho incrível.

 

Sabemos que apenas o fato de ser gay gera bastante preconceito, e que para as drags esse preconceito é ainda maior. Como você enfrenta isso?

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Bis Kate: Eu não sofro muito preconceito não, só comentários insignificantes mesmo. Porém sou bem de boa em relação a isso;

Nicolly Cout: Muita força na peruca mana lkkkkk. Ás vezes a gente peita, ás vezes ignora, mas é importante como artista saber diferenciar os shades, entre preconceito e apenas falta de conhecimento;

Victória Müller: Eu sempre estive preparada pra esse tipo de situação, no nosso meio LGBTQ+ esse preconceito anda disfarçado, as pessoas não falam na cara, agora quando você sai na rua ou em algum lugar fora da nossa zona de conforto, muitos héteros zombam ou tentam tirar sarro, eu mesma ignoro e continuo a frente, isso não me atinge, sempre soube lidar bem com isso.

 

Qual foi a sua melhor experiência como Drag queen?

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Bis Kate: Foi na parada LGBTI desse ano aqui em Uberlândia, que fiz minha primeira performance como drag e para um público grande e foi minha segunda parada na vida e já estava no palco principal;

Nicolly Cout: Viajar pra mim é muito bom. Graças a minha Drag viajei muito esse ano. Tive o prazer de apresentar na parada LGBTI esse ano aqui em Uberlândia, e isso também foi muito importante;

Victória Müller: Cantar na parada do orgulho LGBTQ+ de São Paulo e participar de um programa em rede nacional no SBT. Ambas experiências foram incríveis.

 

E a pior?

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Victória Müller: Já fui seguida, eu e minhas amigas por dois homens armados, quando voltávamos pra casa depois de uma festa, foi aterrorizante, eles nos xingavam e corriam atrás da gente, naquele dia corremos como nunca antes, e nem gosto de pensar o que teria acontecido se não tivéssemos conseguido escapar.

 

Você já pensou em desistir? Como passa por isso?

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Victória Müller: Até hoje nunca, sempre tenho muita motivação pra me montar e sempre fazer algo diferente.

 

Quais são suas inspirações nacionais e internacionais?

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Bis Kate: Eu não tenho inspiração nenhuma, difícil de acreditar, mas é isso;

Nicolly Cout: Nunca tive na verdade, eu sempre evito ver outras drags pra não ter referência. Eu sempre gostei de ter uma identidade única sem inspirar em ninguém;

Victória Müller: Nacionais eu nem sei mais como listar, porque são muitas, todas as drags cantoras e performers me encantam, eu admiro demais. Internacionalmente tenho vaaaarias referências, como Gaga, e várias drags de Rupaul.

 

Ser drag nos últimos tempos é mais que uma manifestação artística, é também política. Como você se relaciona com essa temática?

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Bis Kate: Pra mim a drag foi uma aceitação do meu corpo, ultimamente muita gente sofre preconceito pelo jeito de ser, então com minha drag comecei me aceitar melhor e passar isso pros meus seguidores no Instagram que sofrem com isso também;

Nicolly Cout: Ser drag hj em dia é lutar todos os dias contra um sistema que te faz querer desistir. Eu não só me monto para ser a Nicolly e dar close, eu monto para demonstrar que somos mais do que maquiagem e look, somos resistência diária. Cada dia mais precisamos lutar para que nossa arte continue viva. Vivemos em um país onde a taxa de mortalidade da nossa comunidade é alta, então por dar a cara a tapa todo final de semana, não é fácil;

Victória Müller: Sempre digo que isso é um ato político, e sempre tento me envolver em todos os movimentos de apoio à nossa comunidade, dando a cara a tapa pra que pessoas possam ver que não somos só viados dando close, estamos dando close pra mostrar que estamos aqui e devemos ser respeitados, todos nós.

 

Qual a importância de artistas drags mundialmente conhecidas, como a Pabllo Vittar e RuPaul, para você?

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Bis Kate: Pabllo Vittar ajudou muito as drags de hoje em dia, pois ela teve acesso a lugares que as pessoas ficaram sabendo dela e assim entendendo um pouco mais sobre a arte;

Nicolly Cout: Elas nos trazem visibilidade e ensinam as pessoas como nos tratar quanto artista;

Alice Cout: Eu acho muito importante, porque sempre estão dando cara a tapa pra sociedade, e isso é muito importante para as outras drags, poi temos mais visibilidade e o pessoal preconceituoso perde um pouco desses preconceitos;

Victória Müller: Pabllo sempre foi referência, e hoje em dia ser amiga dela é uma honra pra mim. Rupaul é o ícone da comunidade lá fora né (mesmo com todos os closes errados que não foram poucos né nom).

 

Morar em Uberlândia é um empecilho para sua carreira ou você acha que a cidade e seus habitantes é uma forma de ajuda para impulsionar você?

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Bis Kate: Pra mim é uma cidade normal, conheço cidades que dão bem mais oportunidades pras drags do que aqui;

Nicolly Cout: Uberlândia é muito bom e ao mesmo tempo muito restrito, vejo muita chance de crescimento em São Paulo, e Uberlândia ainda não tem porte pra isso;

Alice Cout: Então, Uberlândia é uma cidade muito difícil de trabalhar como drag. Aqui o pessoal não valoriza muito nosso trabalho sabe?! E tem muitas pessoas do meio LGBT que no lugar de nos apoiar só dificultam, com certos tipos de preconceito;

Victória Müller: Não acho que seja um empecilho, mas aqui tem bem menos oportunidades do que em São Paulo por exemplo. Eu planejo ir pra lá daqui algum tempo, mas por enquanto ainda não é algo que eu vejo como prioridade.

 

As dificuldades passadas por você em Uberlândia, como drag queen, você acha que seria diferente em alguma outra cidade? Acha que algo pode melhorar por aqui para dar apoio para vocês? O que seria?

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Bis Kate: Não sei, até porque cada cidade já tem suas drags "residentes" então se eu mudasse teria que começar do zero, coisa que é difícil com o número de drags que surgiram. Colocar mais drags em line-up, hostess, valorização de cachê. Querendo ou não o trabalho das drags são em boates, então se as boates não colocam drags nos eventos ficamos sem trabalhar;

Nicolly Cout: Sim! Eu vejo drag de São Paulo tocando em 4 boates por noite pra garantir o financeiro! Uberlândia se limita muito! Se voce é dj da casa x você não pode tocar na y de maneira alguma;

Alice Cout: Então, acredito que em cidades maiores o reconhecimento é maior, mas isso vai de opinião acredito eu. Acredito que se tivesse pelo menos uma drag em cada casa noturna aqui em Uberlândia a aceitação do público seria melhor, por que tem muitas casas de Uberlândia que não dão oportunidades para drags que estão começando, por não confiar muito nos trabalhos delas;

Victória Müller: Depende muito, se você tiver os contratos certos a cidade não difere muito. Sim, ter mais eventos com drags, porém respeitando o trabalho delas, entendendo que pagar um cachê não é um favor, mas sim uma obrigação quando você quer contratar um artista. Eu não passo muito mais por isso, mas no início tinha muito contratante que queria pagar com consumação, o que eu acho um absurdo.

 

Você já possui uma popularidade na cidade como drag, já está conseguindo alcançar outras cidades e conquistar novos públicos?

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Bis Kate: Sim, com minha drag já viajei 3 estados pra trabalho (SP, RN e GO), tirando as cidades aqui em volta de Uberlândia;

Nicolly Cout: Sim! Esse ano de 2018 foi um ano de novas oportunidades onde pude viajar bastante e conhecer novos lugares;

Alice Cout: Graças a Deus estamos conseguindo conquistar várias cidades próximas e até mesmo cidades longes, e públicos diferentes, até mesmo público hétero. Inclusive já viajamos pra cidades onde os contratantes eram héteros, e foram super atenciosos com a gente;

Victória Müller: Sim graças a Deus, já estou fazendo muitas apresentações e tocando em várias outras cidades, a drag está me levando pra lugares que nunca imaginei estar.

 

Me conta um pouco sobre a experiência de participar do Programa do Raul Gil, quais portas foram abertas pra você, etc.

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Victória Müller: Muitasss, tive vários convites após o programa do Raul Gil, e participar do quadro foi incrível pra mim, eu me senti vitoriosa de ter ido até a terceira etapa, foram três apresentações que me orgulho muito, dei tudo de mim e sei que os que me acompanham ficaram orgulhosos também. Conheci pessoas incríveis e tive o prazer de ver meus avós me assistindo na TV. Isso não tem preço.

 

Dá um conselho pra galera que têm vontade de se montar!

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Bis Kate: O conselho que eu dou é que se você tem vontade de montar, monte. Não escuta o amiguinho te falando que iria ficar feia, pois ninguém nasce bonita, drag é aprimoramento e até hoje tô no processo. Hoje em dia tem muito canal no YouTube pra drag e dicas de maquiagem. E também pode me chamar nas redes sociais que ajudo;

Nicolly Cout: Procura a drag mais próxima da sua cidade, pede conselhos, vê muito tutorial do Youtube e use o máximo da sua criatividade para executar a sua drag;

Alice Cout: Manas o que eu tenho pra dizer a vocês é:  COMECEM. Não tenham medo de nada, no começo e bem difícil. Não importa se você é hétero, gay ou mulher, solte essa drag que tem dentro de você e vamos brilhar;

Victória Müller: SE JOGUEM, nada vai acontecer se vocês não começarem, tem que dar a cara a tapa, mostrar para o que vieram, e tentem fazer algo diferente para se diferenciar, isso é muito importante.

 

Além de falar com as Drags, para vermos mais um lado dessas histórias, falei também com a Renata Silva, mãe da drag queen Bis Kate. Renata diz que a aceitação de seu filho foi difícil pelo medo do preconceito que ele poderia sofrer por outras pessoas, não por preconceito próprio.

Ela descobriu que o Breno estava se montando através de uma foto no Instagram e depois começou a notar a falta de algumas coisas, como maquiagem, roupas íntimas, bijuterias e que depois sempre encontrava nas coisas dele. Diz que não teve tanto impacto, que reagiu normalmente e que já conhecia a arte por sempre ir na Parada de Orgulho LGBTI+ aqui em Uberlândia.

A mãe da drag Bis Kate também deixa um conselho para os pais que estão passando ou passarão por essa situação “como pais devemos apoiar nossos filhos, independente da escolha deles serão sempre nossos filhos. Devemos aconselhar sobre os cuidados e o respeito que devem ter acima de tudo”.

 

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Acompanhe as Drags Queens entrevistadas no Instagram:

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Bis Kate: @bis.kate

Nicolly Cout: @m_ttheus

Alice Cout: @thuderfood

Victória Müller: @victoria.muller_

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